A sociedade está passando por uma transformação nunca antes presenciada na sua história. A conectividade proporcionada pela globalização e o avanço das tecnologias tem dado um potencial enorme para que as grandes massas tomem cada vez mais consciência sobre o mundo a sua volta, fazendo com que as pessoas deixem de ser espectadores passivos para realmente se tornarem agentes ativos de transformação socioeconômica.
Diante dessa mudança sem precedentes que permeia o curso da história humana, o componente trabalho, que sempre tomou muita centralidade na vida das pessoas, está assumindo cada vez mais protagonismo. Os grupos de Whatsapp profissionais, o uso das demais redes sociais e a consequente facilidade de comunicação do mundo moderno fazem com que a barreira entre vida privada x pessoal seja cada vez mais difícil de ser delimitada, dando margem para que o nosso exercício profissional esteja presente nas 24 horas do dia. Essa nova realidade proporciona algumas reflexões interessantes de serem analisadas e que resultam na importância, cada vez maior, da Segurança e Saúde no Trabalho para as pessoas.
Inicialmente, percebe-se que essa nova geração social exprime uma necessidade, cada vez mais expressa, de realização profissional. A limitada visão industrial de trabalhar para pagar as contas e ter alguns momentos de lazer durante os finais de semana está colapsando, pois a sociedade tem tomado consciência de que é impossível ser feliz trabalhando insatisfeito. a incessante busca por uma vida feliz Como a desconexão está se tornando cada vez mais difícil de se atingir, o problema deve ser encarado de frente: Ou atuamos em ambientes de trabalho mais harmônicos e integradores ou senão estaremos fadados ao fracasso psicológico. Trabalhar infeliz durante 30 anos é um dos castigos modernos mais cruéis que podemos impor a nova classe trabalhadora.
A concepção do trabalho está sendo substituída: Em vez dele ser apenas um meio para conseguir um fim (salário), passa a ser um meio de extrair benefícios para todos os pilares da sua vida e essa demanda social, por si só, já seria suficiente para refletirmos sobre a mudança imediata que os prevencionistas devem adotar para satisfazer com eficiência a nova classe trabalhadora.
Além disso, os conceitos de Inteligência Artificial, Marching Learning e Internet das Coisas também devem ser mecanismos catalisadores para o impulsionamento da SST nos próximos anos. Com as tarefas mecânicas e repetitivas com forte tendência de serem automatizadas, o risco de acidentes devido a falha humana deve diminuir consideravelmente, trazendo maior previsibilidade e segurança para as rotinas operacionais. Com essas ferramentas tecnológicas apoiando consideravelmente o ideal prevencionista, resta aos profissionais que laboram envolvidos com a Segurança e Saúde no Trabalho dedicarem suas atenções para os novos desafios desse novo mundo tecnológico.
Devido ao seu estilo de vida hiperconectado ,surgiu-se um novo risco que tem causado estragos na previdência e na produtividade mundial: Os Riscos Psicossociais. Transtornos mentais representam uma das maiores causas de afastamento em todo o mundo e o Brasil figura, lamentavelmente, entre os ´´campeões´´ nesse conflito. Além de onerar a previdência social com o pagamento dos auxílios previdenciários, a produtividade desce ladeira abaixo devido as milhares horas de trabalho que deixam de ser efetivamente trabalhadas devido a esses afastamentos. Como líder em depressão e transtornos de ansiedade na América Latina, o surgimento dos riscos psicossociais força a categoria prevencionista a se reformular para superar esse mal.
Por último, concluo minha argumentação, em linhas gerais sustentando a tese de que até mesmo os empresários estão tomando conta disso. Startups e empresas ´´modernas´´ já nascem com um DNA corporativo que cultua muito mais o trabalho em equipe do que a individualidade. O modelo de liderança taylorista baseado em um diretor que controla e um empregado que apenas obedece está com os dias contados e já tem se mostrado bastante ineficiente em muitas organizações. Para se manterem competitivas, as empresas estão entendendo que precisam compartilhar as metas empresariais, pois assim o senso de engajamento cresce e as pessoas passam a produzir não somente por mera obrigação, mas porque realmente acreditam que estão trabalhando por algo maior, algo que dê sentido a sua existência.
Além disso, benefícios extra-salariais estão sendo cada vez mais utilizados. Ambientes de trabalho elaborados utilizando conceitos de neuroarquitetura, parcerias com academias (Gym pass), Ginástica laboral, Momento Massagem e Happy Hours são algumas das tendências nas empresas de ponta. A Unilever oferece um berçário para criança de 0 a 2 anos em seu edifício-sede, a filial da Ericson em São Paulo oferta um clube de diversão para funcionários e familiares, o O Ifood proporciona happy hour mensal com direito a DJ e por aí vai. As empresas estão investindo cada vez mais em criar vínculos emocionais mais fortes com seus colaboradores.
Sendo assim, nós que trabalhamos com a Segurança e a Saúde no Trabalho precisamos repensar nosso sistema de gestão, abdicando os documentos de gaveta que nunca sequer saíram da gaveta, para promover de fato ações que transformem ou tornem mais leve a realidade dos colaboradores. Psicologia organizacional, Criatividade, Inovação, Gestão de Pessoas são apenas algumas das disciplinas que sempre foram, mas agora adquiriram maior relevância no repertório técnico básico de todos aqueles que laboram pelo desenvolvimento econômico sustentável.
Apenas para citar um exemplo, a realização da Semana Interna de Prevenção de Acidentes (SIPAT) como um evento lúdico, integrador, que conecta as pessoas através de peças teatrais, mágicas, dinâmicas, palestras sobre inteligencia emocional, financeira, entre outros temas de interesse público é um forte mecanismo que deve ser incentivado nas organizações. O poder transformador desse evento é muito mais representativo quando se olha para essa obrigação legal de forma ampla, não se restringindo somente a vídeos de acidentes e palestras sobre a importância da utilização dos Equipamentos de Proteção Individual.
Precisamos diminuir um pouco o foco das nossas atenções em EPI, relatórios, Checklists, para nos dedicarmos de fato ao objetivo final: Produzir ambientes de trabalhos mais harmônicos e cooperativos, não somente com a ausência de acidentes e doenças, mas como um completo estado de bem-estar.
A Segurança e a Saúde no Trabalho ainda tem muito para caminhar e só depende de nós fazê-la sair da ilusão para a realidade. No próximo artigo, abordaremos com maiores detalhes técnicos esse crescimento no Brasil.
Uma boa reflexão a todos.
Atenciosamente
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